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Esperança dos refugiados através de fotografia bracarense
É de Braga, tem 24 anos, fotografa desde os 12 e é fotojornalista há 10.
Gonçalo Delgado viajou para a Grécia na passada semana para olhar, através da sua câmara fotográfica, para o drama dos refugiados e compilar as imagens numa foto reportagem. O fotógrafo aterrou na ilha de Lesvos e visitou o campo de refugiados “Better days for Moria”, a 20km de Mytilini.
Este é um local onde chegam diariamente centenas de refugiados e onde encontrou uma realidade que classificou como “dramática”. Gonçalo Delgado falou com a RUM e explicou que alterou a perspectiva do seu trabalho mal chegou à ilha grega. “A minha ideia inicial seria tentar fugir à abordagem mais clássica de fotografar a desgraça da situação, mas depois de ver tanta coisa complicada à minha frente, ao nível de condição humana, decidi ter uma abordagem sobre felicidade e esperança no caminho que eles fazem até chegar cá”, contou o fotógrafo bracarense.
Criado numa família de fotógrafos, Gonçalo Delgado lembrou ainda que a situação que mais o marcou durante esta viagem foi, num dos dias, quando chegaram de madrugada três barcos onde estavam oito crianças. “Estavam todas elas em hipotermia. Fiz duas fotos, deu-me um ‘flash’ e pensei que o ideal não seria fotografar, mas sim ajudar as crianças. Foi automático chegar à beira delas, ajudar a secá-las, vesti-las e colocar-lhes cobertores térmicos para se sentirem melhor”, relatou.
Mas nem só de tristeza e situações dramáticas vive esta aventura fotográfica. Gonçalo Delgado relatou “imagens fortes de felicidade” que presenciou aquando da chegada a terra de alguns refugiados. “Eles chegam com muito medo e baralhados mentalmente, mas quando chegam são tão bem recebidos que acabam por sorrir e sentirem-se felizes. Quando são recebidos pelos voluntários são acompanhados para o campo de refugiados – “Better days for Moria” – onde lhes dão roupa seca e comida. Todos eles estão com vontade de estar cá, não por tempo indefinido, mas por dois ou três anos, ou seja, o tempo necessário para voltarem às suas terras, reconstruir o que foi destruído e voltarem à sua vida normal”, sublinhou o fotógrafo.
Depois deste trabalho o autor bracarense assume que não consegue tolerar as visões ‘anti-refugiados’ de alguns quadrantes da sociedade europeia. “Acabei por ganhar um respeito muito maior pelos refugiados e perder algum respeito pelas pessoas que não os querem receber. Depois do que vi lá não consigo tolerar essa visão “anti-refugiados”, contou-nos o repórter fotográfico que vive em Braga desde que nasceu.
Gonçalo Delgado assumiu que este trabalho “foi muito importante”, porque se sentiu útil. “Ganhei mais a nível pessoal do que profissional. A minha ideia é continuar a fazer trabalhos sobre a condição humana. Acabei por conhecer melhor os meus limites e perceber que as realidades das pessoas são completamente diferentes daquelas que nós conhecemos”.
Trabalho exposto e com receitas a reverter para uma ajuda à distância
Gonçalo Delgado pretende agora ver o seu trabalho exposto em galerias de arte e assumiu que sentia orgulho em vê-lo em publicações portuguesas e/ou internacionais.
Na calha estão já algumas exposições nos próximos tempos e com uma novidade. Parte da eventual receita com a venda das imagens irá reverter para a ajuda a uma associação de voluntariado que trabalhe no local. “Já que não posso ajudar lá, é a minha forma de contribuir de alguma forma para ajudar o que lá é feito”.
Este foi um trabalho que alterou a sua forma de olhar para os refugiados e onde destaca o sentimento de esperança que estes têm quando pisam solo europeu. Uma imagem que vale a pena ser contada.
Fotojornalismo numa má fase
O fotógrafo bracarense, apesar de assumir a sua “curta carreira”, deixou ainda alguns lamentos pela forma como este tipo de trabalhos é visto pelas publicações portuguesas. “É muito difícil para um freelancer como eu publicar trabalhos. A aceitação por parte dos órgãos de comunicação social não é a maior. Contactar agências e jornais acaba por ser um trabalho ingrato porque nunca sabes que aceitação vai ter”.
Gonçalo Delgado sublinhou também que o fotojornalismo em Portugal vive dias difíceis, apesar de existir, hoje em dia, “uma linha de fotojornalismo, algo que não existia há alguns anos”. “Temos duas mãos cheias de grandes fotógrafos em Portugal, mas mesmo para esses é difícil publicar e, sobretudo, receberem bem pelo trabalho”, explicou.
No que diz respeito às metas pessoais… Ambição, mas não em demasia por parte deste autor bracarense.
“Um fotógrafo deve exigir sempre de si mesmo. Quero ser um fotógrafo mais maduro e mais consciente e não um melhor fotógrafo de um qualquer meio específico. Claro que um dia gostaria de trabalhar para publicações internacionais, mas acho que essa não pode ser uma meta para algum fotógrafo”, concluiu.