“A Sauna” pretende desconstruir o oportunismo político

É num ambiente secreto que uma ex-deputada, uma directora de campanha, um empresário africano, um jornalista, o líder do partido de oposição, um Bispo, o presidente de uma agência publicitária e um jovem escrivão de 20 anos se reúnem para preparar a eleição do próximo primeiro-ministro. Uma peça sobre o oportunismo político e os jogos de bastidores pela conquista do poder.

Tudo acontece e tudo é possível nesta “A Sauna”. Joana Manuel é uma das protagonistas (a candidata a primeira-ministra) e explica que, afinal, as “grandes verdades” que são ditas não passam de “grandes mentiras”. “Temos lá os toques todos da manipulação e do reenquadramento abusivo da realidade feito pela linguagem política actual”, acrescentou.

O texto da peça “A Sauna” é da autoria de Mikael Oliveira e a encenação está a cargo de Alexandre Azinheira. Ao longo de 70 minutos, diversos personagens engendram um plano para a ascensão a primeiro-ministro de alguém que poderá servir os seus propósitos. “Tudo isto nasce de uma pessoa que está a ser coagida a aceitar aquele papel e que, num dado momento, percebe que a melhor maneira de não o fazer é, precisamente, aceitar aquela posição e o poder que aquele papel lhe dá”, disse a actriz Joana Manuel.

Mas engane-se quem acredita que todas as personagens estão presentes em palco. O actor Jorge Pinto explica que esta peça vai além do que os olhos vêm: “as personagens principais não estão presentes, são omnipresentes”. “Pode ser que as pessoas comecem a perceber que o poder não é aquele que vemos, todos os dias, na televisão. É interessante alertar as pessoas para o poder que está além do imediato”, explicou.

Em ano de eleições autárquicas, Jorge Pinto espera que esta peça possa ajudar a alargar alguns horizontes do público português para a realidade política do país. “Esperemos que as pessoas percebam que os anos de eleições estão cheios de folclore e este espectáculo ‘atira-se’ contra isso mesmo”, finalizou.

A peça “A Sauna” estreia hoje na Casa das Artes de Famalicão. Um trabalho que explora o oportunismo político e que é coproduzido pelo Ensemble – Sociedade de Atores e a própria Casa das Artes. Para ver até sábado, às 21h30, no grande auditório deste espaço cultural famalicense. Os bilhetes custam 8 euros ou metade para quem o cartão quadrilátero.