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A mudança saiu à rua. O que escondem os cartazes autárquicos
O vocabulário de língua portuguesa tem mais de 100 mil palavras. Em Braga, os candidatos à Câmara Municipal só conhecem uma: “Mudar”. Nos cartazes, nas acções de campanha e nos debates todos querem marcar pela diferença. Nos outdoors dos cinco partidos espalhados pela cidade, PS, Coligação “Juntos Por Braga” e CDU prometem “mudar”. Bloco de Esquerda (BE) fala em “diferença”, “Nós, Cidadãos” em “alternativa”. Entre sinónimos, alterar o rumo da cidade é ideia generalizada dos políticos.
Afinal, o que sugerem os cartazes autárquicos para lá daquilo que vemos? A professora de Semiótica da Universidade do Minho, Madalena Oliveira, explica a força que determinados aspectos da propaganda política podem ter na hora de votar.
PALAVRAS
Mudar é um verbo utilizado por três partidos: PS, CDU e coligação “Juntos Por Braga”. “Nós, Cidadãos” utiliza “alternativa”, que no mesmo sentido também sugere mudança. O BE utiliza um sinónimo ao assumir-se como ”diferente”. Alterar o estado das coisas é transversal a todos os partidos. Para Madalena Oliveira a utilização destas palavras tem que ver “com a expectativa de promover alguma alteração no estado actual”, algo inevitável, “seja onde for, pois todos se apresentam com a ideia de que trazem algo novo”. No caso do recandidato, Ricardo Rio “não seria expectável que utilizasse a palavra”. A ideia da coligação pode passar por “garantir que a mudança já começou no primeiro mandato e que não vai parar”.
Até mesmo a “saída de Mesquita Machado pode ser um factor associado aos cartazes da coligação “Juntos por Braga” com uma troca de rosto, ideias e de partido”, frisa Madalena Oliveira.
No caso do PS, de Miguel Corais, o cartaz “é quase como que uma reacção às modificações” que Ricardo Rio efectuou na cidade: “A verdadeira mudança”, lê-se no cartaz do Partido Socialista. O mesmo acontece na CDU, com a utilização do slogan “Mudar a Sério”. Para a professora da Universidade do Minho, é o reconhecer de uma metamorfose “feita pela coligação, mas que não foi a melhor”.
No slogan, utilizar frases curtas “é uma estratégia para que as palavras fiquem na memória. Quanto mais incisiva for a mensagem, mais fica no ouvido, na memória”. No caso da CDU e do PS, os dois falam em mudar, mas o partido de Carlos Almeida vai mais longe: “Ao utilizar as palavras ‘trabalho, honestidade e competência’ a CDU revela onde quer fazer alterações”.
A utilização da caixa alta “facilita a leitura à distância”. No caso do “Nós, Cidadãos”, a utilização de minúsculas “pode ser uma forma de manter a coerência com o lettering do partido”.
IMAGEM
O Bloco de Esquerda é o único que apresenta uma imagem de fundo. Embora pouco perceptível, Paula Nogueira tem atrás de si algumas pessoas. “Braga é de todos nós” é o slogan do partido, que ao utilizar esta imagem “faz com que os dois elementos se completem”.
Não é caso único em Portugal, mas todos os partidos apresentam apenas o candidato e não a equipa de trabalho. Sobre as imagens dos candidatos, “uma postura mais relaxada pode transmitir espontaneidade e criar mais empatia”. Uma presença mais sóbria, passa-nos uma atitude “nem demasiado festiva, nem demasiado confiante”.
O centro óptico é, tendencialmente, à direita, “daí o texto, em alguns dos casos, surgir desse lado o que retém a atenção das pessoas para a mensagem que pretendem transmitir. A utilização de texto à esquerda, opção de alguns partidos, poderá ter que ver com o facto de lermos da esquerda para a direita”, considera a professora de Semiótica.
CORES
“A forte associação do azul-escuro à cidade de Braga” leva Madalena Oliveira a considerar que terá sido aspecto decisivo na hora de fazer os cartazes. À excepção do “Nós, Cidadãos”, todos utilizam o azul, que é também “uma cor que transmite tranquilidade e paz”. No caso do BE, ao utilizar o azul e vermelho, há quase que “uma fusão entre a cidade e o partido”.
A Coligação “Juntos Por Braga”, formada por PPM, CDS-PP e PSD, não utiliza o laranja que está intrinsecamente associado ao Partido Social Democrata. Já o “Nós, Cidadãos”, opta pelas cores dos partidos, “talvez por ser menos mediático que os outros partidos”.
LOCAL
“Os cartazes são colocados em sítios estratégicos para criarem efeito”. O cartaz do PS onde fala em juventude e cultura, colocado junto à Universidade do Minho, não é mero acaso. “Eles são um target específico. Passam centenas de jovens todos os dias ali. Grande parte deles votam há pouco tempo e podem, de alguma forma, identificar-se com a mensagem”.
O “Nós, Cidadãos” é o partido que menos recorre à utilização de outdoors. Rotundas, junto a centros comerciais e locais muito frequentados pelos bracarenses são ponto obrigatório para a colocação de cartazes. À imagem do que acontece no “Nó de Infias”, a estratégia passa por usufruir de locais com grande visibilidade, oportunidades que todos querem aproveitar.