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“Há um elefante na sala e ninguém quer olhar para ele”
Laura Santos é fundadora do Movimento “Direito a Morrer com Dignidade” e uma das principais “activistas” na luta pela despenalização da Eutanásia em Portugal. A investigadora da Universidade do Minho já lançou várias publicações a propósito do tema. Ao longo dos últimos anos é inevitável recorrer a Laura Santos para beber um pouco mais sobre o assunto comparado pela investigadora a “um elefante na sala que ninguém quer ver”.
Esta segunda-feira o Ministério da Saúde pediu uma investigação urgente à Inspeção-geral das Atividades em Saúde a propósito da denúncia da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que este fim-de-semana referiu, numa entrevista à Rádio Renascença, que a eutanásia “já é de alguma forma praticada nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde com médicos que sugerem essa solução para alguns doentes”.
Entretanto, a Ordem dos Médicos anunciou, também hoje, que vai apresentar uma participação ao Ministério Público e à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde contra a bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco.
Ao início da tarde, já depois de a RUM ter falado com a investigadora da Universidade do Minho, a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros veio a terreiro explicar a entrevista de sábado passado à Rádio Renascença. “Nunca disse que vi praticar eutanásia em hospitais”. Ana Rita Cavaco sublinhou que este é um tema fraturante que precisa de ser discutido pelo país e garante que vai realizar um referendo interno.
Para Laura Ferreira, investigadora da UMinho e defensora da despenalização da eutanásia, “há muito que as pessoas dizem que esses casos se verificam”. Daí que acredite no que a bastonária diz considerando “inteiramente plausível”. Laura Santos avisa também que “há um elefante na sala e que ninguém quer olhar para ele, que é precisamente a questão das mortes difíceis”.
A investigadora da Universidade do Minho sublinha que a bastonária está “a dizer que o fenómeno já existe. Portanto, é melhor que exista às claras e com regulamentações, porque isto sim é clandestino e pode proporcionar abusos”.
Nesta altura, caso esse tipo de situações se verifique, “a decisão está entregue a um médico que por mais bem intencionado que esteja fica com problemas, não pode falar daquilo com ninguém e é um segredo para toda a vida”.
Outro dos problemas está relacionado com o mercado negro, procurado por doentes que querem recorrer à eutanásia. De acordo com uma investigação da revista Visão há algumas dezenas de portugueses registados num grupo internacional, de mercado negro, que envia por correio, através de um pagamento antecipado e de forma completamente sigilosa, o produto que deve ser ingerido pelo doente que pretende colocar termo à vida por já não encontrar qualquer tipo de solução para o sofrimento que atravessa. Várias autópsias realizadas no país apontam precisamente para a presença da “droga letal”.
Os cidadãos “são obrigados a comprar substâncias que não são puras, além de que podem ser venenos e deixarem-nos em situações piores do que o que estavam”, avisa Laura Santos.
“Só não sabe quem não está dentro do assunto, o mercado negro abunda e depois quem é que sabe quais as puras e as não puras? Para além de que um suicídio não ajudado por outros que saibam do assunto é sempre altamente difícil, para além da coragem, mas também o inesperado, a pessoa pode vomitar o produto”, alerta a investigadora.
A fundadora do movimento “direito a morrer com dignidade” é doente oncológica e admitiu, pela primeira vez, em entrevista à revista Visão que chegou a hora de ponderar o próprio suicídio, com acesso a uma droga letal que pode ser comprada facilmente online. “Estou entre a espada e a parede. Tenho metástases ósseas e vivo atormentada com dores permanentes e insuportáveis. Tenho acesso a um produto letal, sei onde arranjar a droga e equaciono usá-la”, revelou.