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Quando os outdoors são um espelho da sociedade

São outdoors que espelham realidades. Vazios de mensagem, de substância e que mostram uma sociedade “despida”. É este um retrato que se faz na exposição que é inaugurada esta sexta-feira no Museu Nogueira da Silva.

“Drive-in“ dá o mote para uma viagem conduzida pela jornalista Rute Barbedo. Ex-aluna da Universidade do Minho, natural do Porto, a autora começou por descobrir o gosto pela fotografia nas madrugadas parisienses, mas foi a partir dos subúrbios de Tallin, na Estónia, que começou, sem se aperceber, a traçar o olhar da realidade através dos outdoors publicitários. Onde alguns viam lixo urbano, Rute conseguiu vislumbrar um espelho social.

Esta é uma exposição que migra depois para Portugal (aterra na capital em 2014) e onde reflecte uma sociedade onde o consumismo ganhou espaço. Rute Barbedo chama-lhe “o colapso social pós-moderno”. À RUM, explicou que esta é uma viagem que começou muito por culpa da sensibilidade que tinha por este tema. “Comecei a fotografar instintivamente, sem qualquer reflexão por trás. Começou por tornar-se um vício e uma colecção. Sendo da área da comunicação e tendo amigos na área da publicidade, percebi que há, nestas fotografias, dois mundos que coabitam”, explicou a autora.

Na mostra estão patentes sete paisagens urbanas dividindo uma Europa em dois, mas sem barreiras ou diferenças. “É um ensaio sobre espaços vagos, lugares do esquecimento, nos quais parece não haver futuro”, assumiu.

Os vazios das fotografias [expressos nas telas] acabam por simbolizar a crise de valores de uma sociedade moderna, mas pouco real. “Comecei a ver outdoors vazios em qualquer tipo de plataforma, onde o olho começa a ficar treinado e onde começamos a ver um vazio, talvez de uma sociedade mais real do que aquela que andamos a fabricar noutro tipo de redes. Não é a imagem que queremos projectar, mas é a imagem que já existe, mas que está escondida”, sublinhou a autora fazendo alusão à “vida perfeita” que, por vezes, é partilhada nas redes sociais.

Nas imagens os outdoors assumem-se como elemento-padrão, ainda que tenha sido algo identificado pela autora já depois de recolher muitos momentos. “Comecei a fotografar antes de perceber o porquê dos outdoors me intrigarem. Só depois de perceber que tinha mais de 60 imagens no computador é que pensei o porquê de estar sistematicamente a fotografá-los. Foi aí que comecei a tentar interpretar o que estava a fazer”. Sendo jornalista, a autora assume que, por vezes, “utiliza-se a imagem para poder exprimir algo que não se consegue por palavras”. Aí está a explicação para este espelho do real.

O estranho alívio pelo silêncio

Rute Barbedo não foge à questão. Apesar de viver do jornalismo e de trabalhar há muitos anos na área da comunicação, confessou sentir alívio por ver alguns espaços vazios. “Existe aquele lado onde me sinto saturada da publicidade, do mercado, da sociedade consumista. Quando olhava para estes espaços brancos não havia uma sensação de decadência, mas sim de alívio”. A fotógrafa sustenta ainda que lhe pesa, ainda mais, “ver uma sociedade completamente iludida com o consumismo desenfreado”. A autora salientou que “a crise vem do excesso. Dos objectos, de coisas, de mercadorias. Vem da vontade de querermos suprir as nossas necessidades apenas com bens materiais”.

Sobre o título desta mostra, “Drive In”, sabe-se que há uma alusão, claro está, aos quase extintos cinemas ao ar livre. Aí o padrão era… A tela branca, como não podia deixar de ser.

“No fundo, toda esta exposição faz-me lembrar esses cinemas. Aí são telas para onde olhamos. Ora vazias ora com um filme a passar. Neste caso não há filme algum. Apenas realidade”, concluiu.

A exposição, depois de passar pela Fábrica do Braço de Prata em Lisboa, rumou ao Norte e é inaugurada esta sexta-feira no Museu Nogueira da Silva a partir das 18h. Fica patente até 30 de Junho.

Uma mostra composta por sete telas fotográficas da autoria de Rute Barbedo que assumiu que o jornalismo vai continuar a ser a sua profissão (colabora com Expresso, Exame e Público), ainda que as imersões no mundo fotográfico se tornem cada vez mais constantes.

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